SUSANA

“Coloca as suas duas mãos debaixo da almofada e vira a cara para mim; dormindo de boca aberta. Apesar de não ressonar, o seu nariz chia ocasionalmente – e por vezes bastante alto. Outras vezes, deita-se de lado e abraça-me por trás. Da última vez que ele o fez estremeci: fui tomada por uma repulsa que, desde então, não me deixa dormir decentemente.”

EVA (Parte 1)

“Está morta, pelo que me acaba de revelar o botão do elevador. Uma bala bastou. Entrou-lhe pelo olho direito, depois de perfurar uma das mãos com a qual ela se protegeu quando lhe apontei a Walther. Deixemo-la no seu devido lugar.”

GONÇALO NEVES É UMA VÍTIMA DO SISTEMA

“Se voltava para casa logo a seguir ao trabalho tinha companhia, um abraço e tinha comida. Se não, apesar do entorpecimento da vadiagem, tinha amuo, birra, tinha mulher.
“Ela é uma primadona, doutora!” E a velhota de óculos de massa anuia com a cabeça porque o psicoterapeuta nunca dá a sua opinião.”

OUTRO JANTAR DE VERÃO

“Na varanda, o mês de Agosto suporta-se com outra facilidade. Jacinto Saudade e o seu amante, confiantes da privacidade imposta pelos cortinados bege que os precedem e pela escuridão que desincentiva os olhares inoportunos das velhinhas ainda de plantão ao entardecer, abraçam-se e beijam-se de novo.”